Terça-feira, 29 de Dezembro de 2009

A 11 de Março de 1943, toda a Comunidade Judaica de Monastir na Macedónia jugoslava foi reunida e enviada para norte, para um acampamento transitório no armazém de tabaco de Monopol, em Skopje. Aí reunidos, desde Skopje e Shtip, foram enviados para o Campo de Concentração de Treblinka em três transportes. À excepção de alguns estrangeiros e médicos que foram libertados, nenhum Judeu originário de Monastir sobreviveu a Treblinka.

 

Jamila Andjela Kolonomos foi, de um punhado de judeus, uma das que escapou às deportações. Como membro da resistência jugoslava encontrava-se escondida na altura do acontecimento e com vários companheiros judeus teve hipótese de fugir e alistar-se no Exército Partisano.

 

'Monastir Without Jews' é uma autobiografia que lembra o destino da Comunidade Judaica de Monastir durante o Holocausto - é também um testemunho da presença judaica na resistência jugoslava, conforme lembrado pelos vários Judeus partisanos condecorados. Adaptado a partir de uma compilação de ensaios e artigos em Ladino (Judeo-Espanhol), Monastir Sin Djudyos foi editado no ano passado pela primeira vez em inglês com a adição de 150 fotografias pessoais e de arquivo.

 

É uma obra rara que constituí um testemunho fundamental para conhecer a vida e a morte desta comunidade sefardita.



publicado por Marco Moreira às 09:16
Sábado, 07 de Novembro de 2009

 

Sobreviventes do Holocausto naturais de Salónica mostram os números de prisioneiro tatuados no braço. Da esquerda para a direita: Sam Profeta, Mois Amir, Sr. Robisa e Barouh Sevy ~ Foto: Frederic Brenner

 

 

Antes do início da Segunda Guerra Mundial, havia cerca de 56.000 judeus a viver na cidade-porto de Salónica. No final da guerra, quase 98% da comunidade judaica de Salónica tinha perecido nas câmaras de gás, trabalho forçado, fome e doença em Auschwitz-Birkenau. Somente 11.000 Judeus em toda a Grécia (de um total de população pré-guerra de 77.000) sobreviveu ao Holocausto, dos quais aproximadamente 1.100 voltaram directamente dos campos de morte nazis.

 

Salónica foi outrora o centro da vida religiosa e cultural sefardita e da vida intelectual judaica no geral, que ostentava instituições culturais como teatro Judeo-Espanhol, imprensa, literatura secular e música. A cidade ficava virtualmente parada no sábado, o Shabbat.

 

No entanto, a maioria dos sobreviventes sefarditas acreditam que os ashkenazitas marginalizaram o seu sofrimento. Eles acreditam que as experiências deles foram tratadas como uma reflexão tardia pelos académicos e organizações, mais notadas no Yad Vashem e nos Museus do Holocausto em Jerusalém, Israel e Nova Iorque. Ambos citaram numerosas fontes para provar o contrário.

 

A comunidade judaica de Salónica floresceu durante muitos séculos. Tão tarde quanto 1912 os judeus eram o maior grupo étnico-religioso na cidade. Mas em 1917, um grande fogo devastou Salónica, facto que deixou os judeus fragmentados e os empobreceu. Com o advento de nacionalismo grego e a reorganização dos Cristãos Ortodoxos na Grécia em 1923, os judeus de Salónica começaram crescentemente a sentir-se marginalizados. Antes das duas guerras mundiais, ocorreram fenómenos periódicos de anti-semitismo, tais como a tradução em grego da falsificação afamada, "Prótocólos dos Sábios de Sião", em 1928. É possível que entre 20.000 a 25.000 judeus tenham deixado a cidade antes da Segunda Guerra Mundial estourar.

 

Em Abril de 1941, a Alemanha nazi invadiu a Grécia. O Rei George II sai de Atenas e um regime fantoche pró-Eixo é instalado, com o país dividido em três zonas diferentes: Atenas e certas ilhas estavam debaixo do controle de Itália; Macedónia oriental estava debaixo do controle de Bulgária; e Salónica era controlada pelos Nazis. Logo, um gueto foi criado para os judeus de Salónica onde eram forçados a usar uma estrela amarela. Espectáculos de humilhação pública para com os judeus tornaram-se um lugar-comum e não levou muito tempo a estes serem deportados para campos de concentração, em Março 1943. Aproximadamente um quinto da população de Salónica era deportada, que conduziu ao saque difundido de casas e negócios pertencentes a judeus.

 

O Rabino Chefe de Salónica era na ocasião Zvi Koretz, uma figura particularmente controversa. Um rabino ashkenazita ordenado em Viena, que se tinha tornado o rabino principal de Salónica em 1933. Detentor de um doutoramento em Árabe e Filosofia Medieval Islâmica no Instituto de Estudos Orientais de Hamburgo, foi acusado no pós-guerra por sobreviventes gregos do Holocausto de ser um colaborador dos nazis. Koretz tornou-se o rabino principal numa altura em que a liderança judaica procurava uma aproximação mais moderna para o Judaísmo na cidade, essencialmente depois do líder tradicionalista, Haim Habib, ter recusado dar um aperto de mão à rainha grega por motivos de modéstia e recato religioso (Tzniut). Mas o acontecimento teve o efeito oposto e Koretz tornou-se impopular devido ao seu comportamento rígido e arrogante. Foi preso pelo exército alemão um mês após a invasão da Grécia e foi enviado de volta para Viena onde esteve preso oito meses, acusado de promulgar propaganda anti-alemã.

 

Em 1940, Koretz protestou activamente o bombardeamento italiano da Igreja de Santa Sophia em Salónica, facto que causou suspeita a muitos judeus gregos que colocaram a hipótese deste ter sofrido uma "lavagem ao cérebro" pelo Nazis e se tornar seu colaborador. Além disso, ele serviu cooperação às autoridades alemãs no início de 1940 e foi forçado pelo Nazis a encabeçar o Conselho Judaico local. Neste papel, teve oportunidade de negociar a libertação de 4.000 jovens judeus levados para trabalho forçado, mas não conseguiu os fundos necessários para manter o cemitério judaico com mais de 500 anos, um dos maiores na Europa. Os alemães demoliram-no e usaram as lápides para a construção de estradas, piscinas e urinóis.

 

Na primeira grande acção pública contra os judeus de Salónica, o General Kurt von Krenzski, chefe das forças alemãs no norte da Grécia, ordenou todos os homens adultos judeus a juntar-se na Praça de Eleftheria na manhã de 11 de Julho de 1942 com o fim de registar todos os homens para detalhes de trabalho. Em vez de tarefas de trabalho foram mantidos quase 10,000 homens parados ao sol durante o dia inteiro enquanto os soldados alemães e italianos os humilharam em frente à população não-judia forçando-os a tarefas desagradáveis. Aqueles que desfaleciam do calor e cansaço eram espancados pelas tropas e encharcados com água até se colocarem novamente de pé.

 

A solução-final começou na Grécia em Fevereiro de 1943, com a chegada de dois proeminentes oficiais nazis, Dieter Wisliceny (ajudante íntimo para Adolph Eichmann que supervisionou muitas deportações) e Alois Brunner. Quando os dois chegaram a Salónica, ordenaram imediatamente medidas anti-judias que o Rabino Koretz aconselhou os judeus a aceitarem. Em contraste com o rabino principal em Atenas, Elias Barzilai que encorajou que a comunidade fugisse, Koretz falou aos judeus que eles seriam reorganizados em segurança na Polónia e eventualmente encontrariam trabalho num outro lugar - de acordo com algumas crónicas de então.

 

Muitos notáveis de Salónica e judeus da restante Grécia foram um símbolo de coragem durante a guerra. O campeão boxeur meio-peso, Jacko Razon, contrabandeava sopa para os ocupantes famintos na cozinha de Auschwitz-Birkenau, onde ele trabalhou. Jacko Maestro de apenas quinze anos de idade tornou-se coordenador de trabalho de 10.000 reclusos e salvou várias vidas subornando guardas alemães. Em 1944, os Sonderkommando gregos organizaram uma revolta nos crematórios matando vários guardas nazis. Isaac Baruch conseguiu pôr uma bomba no forno crematório "Crematorium III", no qual o edifício foi destruído. Os conspiradores foram executados publicamente, enquanto entoavam canções tradicionais gregas e o hino nacional grego.

 

No término da guerra, mil judeus sobreviventes de Salónica voltaram à cidade para encontrar as suas casas e negócios assumidos por gregos que recusaram renunciar controlo da propriedade pilhada. A maioria escolheu deixar a cidade onde nasceram, seguindo para os Estados Unidos ou Palestina. Hoje, há cerca de 250 judeus gregos a viver em Israel.



publicado por Marco Moreira às 19:57
Quinta-feira, 15 de Outubro de 2009

Entrada para a Sinagoga Bevis Marks, Londres

Foto: Jornal "THE GUARDIAN"

 

De acordo com Alfred A. Zara, da Foundation for the Advanced Sephardic Studies & Culture, não existem registos de judeus na Grã-Bretanha durante o período Românico, ao contrário da Península Ibérica, França e Alemanha. Os primeiros judeus chegaram depois da Conquista Normanda em 1066. Após a conquista, Guilherme da Normandia convidou judeus financeiros de Rouen a se estabelecerem em Inglaterra.

Prosperaram em Inglaterra, principalmente no negócio dos empréstimos, facto que mais tarde ditou a sua condição de “indesejados” por se tornarem alvo de preconceito por parte de alguns Nobres, seus principais devedores. Essa condição resultou na sua expulsão em 1290.

Depois da expulsão dos Judeus de Espanha em 1492 e de Portugal em 1497, e do estabelecimento da Inquisição, um grupo de judeus mercadores portugueses, ostensivamente católicos, mas consistentemente marranos (muitos dos quais prontos para retornar ao Judaísmo), estabeleceu-se em Inglaterra.

Em 1656, o Rabino Menasseh ben Israel de Amsterdão fez uma visita a Inglaterra para tentar persuadir o Governo Inglês a autorizar os judeus a se estabelecerem uma vez mais em solo britânico. Foi então que conheceu Oliver Cromwell, que se dispunha favorável à ideia. Após a deliberação da comissão reguladora, relativamente à questão, foi anunciado que o Decreto de Expulsão de 1290 já não tinha relevância.

Seguidamente, os mercadores portugueses “criaram” uma sinagoga numa habitação, e retornaram abertamente ao Judaísmo. O Rabino Menasseh oficiou numa ocasião um serviço religioso. A comunidade judaica é assim estabelecida na Inglaterra pelos judeus sefarditas, facto que, ao longo dos anos atraiu muitos marranos de Espanha e Portugal, fugidos das Inquisição.

Muitos destes mercadores portugueses eram bem sucedidos e atingiram posições proeminentes na sociedade britânica. A comunidade sefardita prosperou e construiu a sua primeira sinagoga em Bevis Marks (Londres), no ano de 1701.

 

Refugiados judeus ashkenazitas da Polónia e Alemanha foram ajudados pelos sefarditas a emigrarem para a Grã-Bretanha. Ainda assim, em número pouco expressivo, pelo que os sefarditas permaneceram como a maior comunidade por mais de 100 anos. Nas suas actas ficaram registados variados nomes de famílias de origem Ibérica, tais como: Montefiore, Lindo, Disraeli, Mocatta, Da Costa, etc.

Somente no século XIX, após uma gigantesca vaga de refugiados polacos e da Europa de leste, a composição demográfica da comunidade judaica britânica foi alterada e famílias ashkenazitas, tais como os Rothschilds, se tornaram proeminentes. Os judeus sefarditas continuaram a exercer cargos de grande importância na sociedade britânica, mas foram largamente ultrapassados em número, pelo elevado fluxo de emigrantes ashkenazitas que então aí se fixaram.

Por volta de 1912, um novo fluxo demográfico de judeus sefarditas chegou à ilha, desta vez desde a Turquia e Grécia, principalmente Salónica. Devido ao declínio do Império Otomano e o controlo de Salónica pelos gregos, ocorre um enorme êxodo sefardita, com muitos partindo para os Estados Unidos da América, França e Inglaterra. Aqueles que chegaram a Inglaterra criaram uma nova comunidade separada da Bevis Marks, aceitando no entanto, autoridade da mais antiga.

Com a ajuda da Sinagoga Bevis Marks e da Fundação David Sassoon, a comunidade Oriental conseguiu construir a sua própria sinagoga em Holland Park (Londres) no ano de 1928. Embora ambas as comunidades tivessem nas suas origens os Judeus de Espanha e Portugal, foi a Sinagoga Holland Park que manteve a sua herança histórica com idioma Judeo-Espanhol e o Ladino. A Sinagoga Bevis Marks tinha as suas origens quase exclusivamente na língua portuguesa, em vez do Ladino.

Hoje, haverão cerca de 10 sinagogas sefarditas na Grã-Bretanha com uma forte vida comunitária, grande parte delas situadas em Londres, mas a Bevis Marks continua a ser a sinagoga sefardita “per se”.

 

 

 

Em baixo, poderá ver a imagem de um Siddur (livro de rezas) utilizado em 8 de Março de 1841 na Sinagoga Bevis Marks, que serviu para comemorar o êxito que assistiu Sir Moses Montefiore na sua missão ao Leste:

 

Para ver em pormenor basta clicar nas fotos



publicado por Marco Moreira às 17:20
 
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