Foi o segundo debate mais visto de sempre com 73 milhões de telespectadores. Destronando o debate entre os principais intervenientes, McCain e Obama, por mais de 20 milhões de pessoas acabou por ser um debate morno, sem “gaffes” e sem grandes motivos para reivindicar vitórias uma vez que não conseguiram ser totalmente frontais e de salientar as soluções fundamentais que ambos defendem.
Mas antes uma introdução:
A escolha de Palin para “vice” republicana, que a principio mostrou ter sido uma jogada de mestre de McCain, foi aos poucos perdendo o brilho, muito por força dos media liberais que exaustivamente a acusaram de falsa moralista, fundamentalista evangélica e ignorante.
Apesar de não transpirar o estigma de 2ª escolha, Palin acabou por ser a surpresa necessária depois de nomes seguros e experientes não se perfilarem como disponíveis, como Joe Lieberman e Condoleezza Rice. Foi o trunfo na manga de McCain e no overall não se pode dizer que os media a tenham destruído, mas de facto tornaram-na mais frágil. Talvez por isso, esta se mostre mais populista e menos popular com tiques que chegam a roçar o parolo e pacóvio, como o sorriso que termina num piscar de olhos para a câmara e um acenar da cabeça vitorioso. Por vezes dei por mim a pensar em Ned Flanders, o beato da série “Simpsons”, pelos gestos quase plagiados. Mas de facto Ned, tal como Palin, é um cidadão exemplar, que paga os impostos, trabalhador, familiar e fervoroso religioso que defende a máxima do dollar “In God we Trust”. Algum problema nisso!?
Se Palin se mostrou frágil na política internacional e ignorante do ponto de vista geográfico, os democratas não podem estar muito à vontade com o seu “vice” Joe Biden. Ao longo dos anos este revelou-se um dos maiores “gaffeiros” da política americana, ao nível o campeão George W. Bush. É conhecido pelas piadas sexistas e racistas que deixam os americanos boquiabertos com a falta de timing e moderação. Na Europa talvez não fosse problema, mas no país que inventou termos como african american e little people, Biden está a um passo do abismo cada vez que abre a boca.
É um homem do aparelho democrático, escolhido cirurgicamente para apoiar Obama devido à sua falta de experiência, que curiosamente, o próprio fez questão de salientar quando ainda era seu adversário nas primárias democráticas.
Estamos então perante a “Energia e Entusiasmo Patriótico” de Palin vs. a “Experiência e Qualificação Internacional” de Biden.
O debate começa com um Biden mais seguro mas sem grandes soluções. A estratégia é ligar o actual presidente com McCain e defende que a vitória deste não vai trazer novidades. Defende a construção de políticas económicas e acusa os republicanos dos aumentos fiscais enumerando os seus maiores erros nesse campo. Foca a importância da classe média e defende a aposta nas energias alternativas.
Palin ainda pouco à vontade, refugiou-se nos exemplos populares da vida familiar e das suas dificuldades diárias. Promete reformas económicas e travar o seu ódio de estimação a nível interno: “A corrupção e ganância de Wall Street”. – que mencionou três vezes durante o debate.
Defende-se com o facto de o próprio Obama apoiar os mesmos aumentos fiscais e promete lutar para eliminar as diferenças na assistência social.
Ambos não apoiam o casamento homossexual. Biden defendeu a união de facto e igualdade fiscal entre “casais do mesmo sexo”. Palin falou em tolerância.
À medida que o debate avança, Palin mostra-se mais confiante e revela o seu sentido prático e real dos problemas de política externa dos Estados Unidos, curiosamente uma dos suas fraquezas.
Enquanto Biden qualifica o Paquistão e o Irão como problemas similares aos quais terão importância idêntica na agenda democrática, Palin defende uma maior atenção ao Irão e faz menção ao seu maior aliado: Israel. Biden começa a tornar-se utópico na defesa do diálogo enquanto Palin salienta que a América não deverá ter diálogo com os seus inimigos e com ditadores. Biden defende uma diplomacia musculada de apoio a Israel e defende o avanço das tropas da NATO no Líbano. Palin por sua vez defende a solução de dois estados (Israel e Palestina) e volta a frisar o apoio a Israel referindo que “não vamos permitir um segundo Holocausto”.
Relativamente ao problema no Darfur concordam na sua totalidade mas perdem pouco tempo a falar do mesmo, principalmente por culpa da moderadora.
Relativamente ao papel que cada um vai ter nas relativas administrações, Biden revela que terá liberdade de opinião sobre todos os assuntos do país enquanto Palin por sua vez irá liderar em certos pontos.
No final dá-se um empate técnico, muito por “culpa” dos intervenientes. Palin não se revelou “parola” e Biden não se revelou sexista. Foram ambos muito correctos e preferiram não enveredar pelo caminho da acusação barata e moralista. Talvez porque ambos tenham “telhados de vidro”… Mas quem não os tem?!
Parabéns pelo nível. Mas o debate foi fraquinho (assim como a minha análise). Mas que fazer quando a matéria prima não é de grande qualidade?!