Quarta-feira, 15 de Setembro de 2010

Há tempos, Pacheco Pereira dedicou parte do seu "Ponto contra Ponto" na SICNotícias aos potencias perigos das tecnologias multimedia, nomeadamente ferramentas de edição de imagem como o Photoshop. Como exemplo mostrou uma capa do National Geographic em que 2 pirâmides egípcias se destacavam numa lindíssima foto ao pôr-do-sol. O problema é que a imagem havia sido manipulada de forma a possibilitar que ambas as pirâmides fossem visíveis na capa da revista.

 

Hoje deparo-me com a foto da esquerda no jornal egípcio de maior tiragem. O governamental "Al-Ahram", que significa curiosamente As Pirâmides na linguagem local. Trata-se de uma imagem captada na Casa Branca aquando do último encontro de vários líderes do médio-oriente em Washington. Entre eles Hosni Mubarak (Presidente do Egipto) destacado à frente, seguido de Netanyahu, Abbas, e o Rei Abdullah, para além do anfitrião Barack Obama que, curiosamente, não encabeça o grupo! Como é óbvio, e conforme podemos verificar na foto original à direita, quem fez as honras hospitaleiras foi também aquele que liderava a reunião: Barack Obama.

 



publicado por Marco Moreira às 15:02
Domingo, 28 de Março de 2010

O que devemos pensar do «filho mau», que nos desafia a todos à volta da mesa do Seder de Pessah (Páscoa judaica) com a questão “O que esta práctica significa para vós?” Primeiro podem não se aperceber que o «filho mau» está a citar a Torah - Êxodo 12:26, para ser preciso. No seu contexto original (a primeira celebração do Pessah, na véspera do Êxodo do Egipto), a questão foi emoldurada como aquela que será colocada por futuras gerações, e recebe uma resposta frontal, uma explicação para o significado de Pessah.

 

A Haggadah, no entanto, vê a questão numa luz menos positiva, obviamente expressa com a catalogação do filho como sendo “mau”. Indica que perguntar o que Pessah significa para “vós” resulta da hostilidade do filho para com a comunidade. Somos instruídos para sermos amargos na nossa resposta ao filho e citar as Escrituras de volta para ele: “Foi por causa do que D’us fez para MIM quando EU fui libertado do Egipto” (Ex. 13:8) “Estivesses lá estado tu, «filho mau», terias sido deixado para trás.” Dois livros recentes usam a questão do «filho mau» como ponto de partida para ligações com a alienação de muitos Judeus contemporâneos com a sua comunidade.

 

David Mamet, no seu livro The Wicked Son: Anti-Semitism, Self-Hatred and the Jews (parte de uma fabulosa série da editora NextBook), começa com a premissa que “o mundo odeia Judeus” e assim sendo, todos os Judeus têm de escolher um dos lados: “Dentro ou fora”. Ele escreve que “a maldade do «filho mau»” significa que “ele não defende aqueles que o defenderiam”

 

Ele sente-se livre para tomar prazer da sua herança intelectual, o amor Judaico pelo estudo, e reverência pela realização; ele toma prazer, consciente ou não, da herança milenar da Lei Judaica e seus valores; ele toma prazer da sua vida, a qual lhe teria sido negada e a seus ancestrais na Europa que sofreram para partir, ele goza do direito de protecção da comunidade que ele nega e, apesar de tudo, papagueia “Os meus pais eram Judeus, mas eu não me considero Judeu.” (pág. 128-9)

 

No seu livro, Mamet procura direccionar uma chamada de atenção a este tipo de Judeus, dizendo a todos os «filhos maus» para deixarem de culpar a Comunidade Judaica pelas suas falhas e de terem orgulho na sua herança como descendentes de “reis e rainhas, uma nação sagrada e um reino de sacerdotes.” (pág. 180)

 

Uma resposta completamente diferente é oferecida por Mitchell Silver em Respecting the Wicked Child: A Philosophy of Secular Jewish Identity and Education. Ele observa que o “pecado” do «filho mau» é a expressão de alienação da tradição enquanto os outros filhos questionam como se celebra o Seder apropriadamente ou o seu significado. Notando que para Judeus liberais ou seculares, não é somente um desafio encontrar razões para manter a identidade Judaica.

 

Também é difícil superar razões contra manter a identidade Judaica. Os mais fortes argumentos para a assimilação advêm do Iluminismo liberal de uma humanidade comum universal. Nesta visão, tudo o que é significativamente humano é, ou procura ser, universal…

 

Silver toma uma visão muito mais positiva do «filho mau» que Mamet, escrevendo que “entre os Judeus contemporâneos há muitos «filhos maus», e merecem respostas que equivalem a mais que uma demissão tradicional desdenhosa.” (pág. 1)

 

O livro de Silver tenta fornecer uma base filosófica para uma identidade Judaica os valores liberais e seculares. A sua premissa é que “a questão do «filho mau» tem uma certa prioridade lógica e moral” sobre o «filho sábio» que consiste em compreender os detalhes da observância do Seder. Uma vez que o «filho mau» fica satisfeito com um entendimento mais geral “do que se trata, o desejo pelos detalhes seguirão. A transição de malvadez a sabedoria, da separação a comunhão, é natural” (pág. 189).

 

Pessoalmente gostaria de escolher um meio-termo entre a visão condenatória de Mamet e a abordagem celebrativa de Silver em relação ao «filho mau». Por um lado, a questão colocada por este é legítima. Afinal de contas, no Seder somos instruídos a convidar todos que têm fome a se juntarem a nós, e o «filho mau» poderá ser um convidado a quem tudo isto é estranho e – quem sabe – talvez nem seja Judeu? Pelo menos o «filho mau» presta atenção suficiente para colocar a questão! Por outro lado, quero levar a Haggadah a sério em mencionar o filho como «mau».

 

A resposta da Haggadah só faz sentido se ouvirmos na questão não somente a voz do Judeu alienado que tenta encontrar um lugar na comunidade, mas também a voz da apatia, da hostilidade, de um desafio para a legitimização do Seder de Pessah e para a comunidade de todos os presentes: “Prova-me que isto vale a pena ser feito, que devo-me considerar um de vós.” Ainda assim, apesar de a questão do «filho mau» ser confrontadora, prefiro tê-lo à mesa – desconfortavelmente irritado, talvez – em vez de não o ter presente de todo.

 

Gostaria de agradecer ao «filho mau» por se juntar a nós para o Seder, apesar deste ter sentimentos de alienação e fúria. Sugiro que – e aqui, penso que a Haggadah concorda comigo – todos os quatro filhos devem estar presentes na mesa. Devemos estar felizes quando o «filho sábio» pretende estar nesta mesma mesa em vez de preferir um Seder composto somente de outros sábios, mas estando disposto a sofrer com as questão do «filho simples» (provavelmente com muitos suspiros saturados). O «filho simples» também deve achar as questões meticulosas do «filho sábio» entediantes, enquanto espera impacientemente durante a explicação detalhada das leis do afikoman.

 

Penso que não devemos ser lestos a dispensar o «filho mau», assim como a ignorar o silêncio do «filho que-ainda-nem-sabe-perguntar», nem sequer ficarmos frustrados com as intermináveis questões do «filho sábio» e do «filho simples». Todas as vozes devem ser ouvidas. Prefiro um Seder onde a questão do “mau” é colocada, em vez de deixá-lo ir calado, recusando-me sequer a ouvi-la...



publicado por Marco Moreira às 00:37
Segunda-feira, 28 de Dezembro de 2009

A Sinagoga de Ben-Ezra, por vezes conhecida como sinagoga El-Guenizah, está situada no distrito de Fustat no Egipto, mais concretamente no Cairo cóptico. Para além de ser a mais antiga sinagoga egípcia, é também caracterizada pela fusão entre uma arquitectura cristã com arabescos islâmicos e ornamentos judaicos. A sua história é também ela uma fusão: entre realidade e lenda. Por exemplo; diz a lenda que é o local onde a cesta com o profeta Moisés foi recolhida das águas.

 

Sob o reino do rei babilónio Nabuchadnezzar II, os Judeus retornados ao país guiados pelo profeta Jeremias, encontraram acidentalmente vestígios de Moisés, e lá, muito perto da cidade de Guizeh, criaram uma sinagoga com o nome “Jeremias”. Dentro deste santuário foi edificado um lugar especial chamado Guenizah onde um rolo de uma Torah incompleta atribuído a Ezra Sofer (Ezra, o Escriba), foi enterrado.

 

Em várias obras, muitos historiadores citam a sinagoga como situada nestas paragens. Um deles, Benjamin de Tudèle, vindo de Espanha em 1169 escreve no seu livro escrito (em 1170) que visitou a sinagoga num lugar chamada Antiga Cairo e que lá, descobriu o rolo da Torah de Ezra, o Escriba. Outro historiador, o famoso historiador judeu italiano Jacob de Vittelina, chegado ao Egipto antes do anterior faz alusão a esta sinagoga. Um terceiro, Rabbi Yosef relata na sua obra redigida em 1630 que a inscrição original de Sambar à Universidade de Bodelaine (Oxford) contém várias referências relativas à sinagoga de Ben-Ezra da Antiga Cairo. Entre estas referências, há uma passagem assinalada na obra “Khetat” do historiador El-Makrizi que viveu no século XIV:

 

«Durante a minha visita à sinagoga da Antiga Cairo, encontrei do lado do sul um lugar onde vários séculos anteriormente, o antigo Sefer Torah de Ezra, o Escriba foi depositado».

 

O Dr. Salomon Schechter da Universidade da Columbia, chegado ao Egipto no tempo de Lorde Cromer, apoiou os relatórios precedentes a respeito da sinagoga.

 

Aquando da invasão do Egipto pelos Romanos (Ano 30 antes da Era Comum), os invasores destruíram a sinagoga do profeta Jeremias. No ano 641, Amr Ibn Al-Ás, o grande general árabe, venceu os Romanos na Babilónia e restituiu aos seus proprietários os bens usurpados pelos Romanos. Os Coptas reclamaram então o terreno sobre o qual tinha sido edificada a antiga sinagoga de Jeremias, justificando a sua queixa pelo facto de Jeremias ser citado no Novo Testamento como um dos seus profetas. Como eram mais numerosos que os judeus, tiveram êxito a convencer Amr Ibn Al-Ás e o terreno foi-lhes atribuído. Sobre este mesmo terreno, os Coptas construíram então uma igreja que o historiador El-Makrizi chama na sua obra a Igreja do Anjo Gabriel. Quanto aos outros historiadores, referem-se chamando-o Igreja de São Miguel. O Dr. Richard Gotheil da Universidade de Columbia e o professor William Worell da Universidade de Michigan, na sua obra “Cairo” reportam que a Igreja foi destruída pelo califa fatímida El-Hakim BI Amr-Ellah.

 

Em 868, Ahmed Ebn Touloun, governador do Egipto, impôs ao Coptas um tributo anual de 20.000 dinares de ouro.

 

No ano 1115, o Grão-Rabino Abraham Ibn Ezra viajou de Jerusalém ao Egipto. Dirigiu-se às altas patentes estatais e fez-lhes saber que estava a par da história da sinagoga afirmando direito de possessão do terreno. Seguidamente interveio junto do Patriarca Alexandre 56 dizendo-lhe que a sinagoga devia ser restituída aos Judeus. O Patriarca respondeu que o governador reclamaria o tributo anual de 20.000 dinares. Por último, foi decretado que a sinagoga era restituída aos Judeus quando o tributo fosse vertido. Ben-Ezra (correspondente hebraico para Ibn Ezra) reconstrói então a sinagoga que tem ainda hoje o seu nome.

 


Em baixo poderá ver fotos da Sinagoga Ben-Ezra, gentilmente cedidas pelo Dr. Joshua Ruah:

 

Para ver em pormenor basta clicar nas fotos

 

 

a ler também neste blog: A GUENIZAH DO CAIRO



publicado por Marco Moreira às 11:21
 
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