Quinta-feira, 31 de Dezembro de 2009

 

O REGICÍDIO

 

«Tendo o regicídio consistido na essencial base do regime de 1910-2009, fica assim provado que à luz do Código Penal, o facto da ocorrência de Homicídio Qualificado Agravado, retira qualquer legitimidade à existência de uma Comissão oficial para as Comemorações da República. As verbas adstritas a esta entidade são ilegais, exigindo-se em nome do Estado de Direito, a imediata dissolução presidencial da dita organização»

 

Nuno Castelo-Branco in "Estado Sentido" (25 de Março de 2009)

 

[via Estado Sentido]

 

 

Nota de interesse: Diz o Código Penal, nomeadamente o  Artigo 32, relativo ao crimes de 'Homicidio Qualificado', nas seguintes alíneas:

 

[f] Ser determinado por ódio racial, religioso, político ou gerado pela cor, origem étnica ou nacional, pelo sexo ou pela orientação sexual da vítima; [h] Praticar o facto juntamente com, pelo menos, mais duas pessoas ou utilizar meio particularmente perigoso ou que se traduza na prática de crime de perigo comum; [j] Agir com frieza de ânimo, com reflexão sobre os meios empregados ou ter persistido na intenção de matar por mais de vinte e quatro horas; [l] Praticar o facto contra membro de órgão de soberania (...)



publicado por Marco Moreira às 11:14
Quarta-feira, 30 de Dezembro de 2009

 

António Nunes Farias e Mário Jorge Raposo, jornalista e repórter de imagem da Rádio Televisão Portuguesa, para além das suas funções laborais, partilham o gosto pela fotografia e também pela história que envolve o maior conflito bélico da história da Humanidade.

 

No ano passado, Mário Raposo viajou até ao campo de concentração de Auschwitz, hoje transformado em museu, e foi também testemunha da “Shoah”, nome hebraico para definir holocausto, extermínio, genocídio”. A passagem por um lugar onde há cerca de 70 anos foram assassinados milhões de seres humanos marcou este repórter de imagem. Um ano depois, foi a vez de António Nunes Farias se deslocar a uma outra cidade polaca, Treblinka, e registar também em imagens, as provas ainda visíveis daqueles dias negros, em que o partido nazi confinava a guetos, o povo judaico.

 

O resultado dessas duas visitas acabou por dar origem a uma exposição fotográfica composta por 20 imagens, tendo cada um dos autores escolhido dez visões diferentes dos locais onde foram para expressar a sua leitura desta passagem negra da história. A mostra, intitulada “Shoah” foi inaugurada no dia 20 de Dezembro, no Museu Judaico de Belmonte e estará patente até ao dia 20 de Janeiro de 2010. A mostra irá depois passar por todas as lojas “Ponto Já” da região e também diversas escolas. O evento é também possível devido ao patrocínio do Instituto Português da Juventude, através da Direcção Regional do Centro e da Empresa Municipal de Belmonte.

 

[Via Associação Memória e Ensino do Holocausto]

 

Contactos para informações:

t: 272 348 000 | e: ipj.cbranco@ipj.pt

t: 275 913 505 | e: museujudaico.belmonte@net.vodafone.pt



publicado por Marco Moreira às 15:21
Terça-feira, 29 de Dezembro de 2009

A 11 de Março de 1943, toda a Comunidade Judaica de Monastir na Macedónia jugoslava foi reunida e enviada para norte, para um acampamento transitório no armazém de tabaco de Monopol, em Skopje. Aí reunidos, desde Skopje e Shtip, foram enviados para o Campo de Concentração de Treblinka em três transportes. À excepção de alguns estrangeiros e médicos que foram libertados, nenhum Judeu originário de Monastir sobreviveu a Treblinka.

 

Jamila Andjela Kolonomos foi, de um punhado de judeus, uma das que escapou às deportações. Como membro da resistência jugoslava encontrava-se escondida na altura do acontecimento e com vários companheiros judeus teve hipótese de fugir e alistar-se no Exército Partisano.

 

'Monastir Without Jews' é uma autobiografia que lembra o destino da Comunidade Judaica de Monastir durante o Holocausto - é também um testemunho da presença judaica na resistência jugoslava, conforme lembrado pelos vários Judeus partisanos condecorados. Adaptado a partir de uma compilação de ensaios e artigos em Ladino (Judeo-Espanhol), Monastir Sin Djudyos foi editado no ano passado pela primeira vez em inglês com a adição de 150 fotografias pessoais e de arquivo.

 

É uma obra rara que constituí um testemunho fundamental para conhecer a vida e a morte desta comunidade sefardita.



publicado por Marco Moreira às 09:16
Segunda-feira, 28 de Dezembro de 2009

 

OS CUSTOS DAS COMEMORAÇÕES DA REPÚBLICA

 

«Os gastos com a comunicação das Comemorações do Centenário da República, a decorrer em 2010, já somam 344,4 mil euros. No total, a Comissão responsável pelo evento disponibilizou até agora 724 114,5 euros, para contratos feitos com empresas por ajuste directo, isto é, sem recurso a concurso.


Para Paulo Teixeira Pinto, presidente da Causa Real e ex-presidente do BCP, “a política é fazer escolhas e fazer escolhas é ter prioridades”. “Não se deve fazer ajustes directos e, neste momento, é completamente desproporcional à realidade e inoportuno”, critica, em declarações CM.


Para preparar o evento, que terá acções pontuais entre 31 de Janeiro e 5 de Outubro de 2010, esta Comissão, presidida pelo responsável do BPI, Artur Santos Silva, já investiu 724 114,5 euros. Num ano em que Portugal atravessa uma das maiores crises financeiras, as comemorações, têm um orçamento de dez milhões de euros proveniente do Orçamento do Estado.


Para dar conhecimento do evento, a Comissão contratou a construção do site www.centenariorepublica.pt. O design foi atribuído a Henrique Cayatte, Lda e custou 99 500 euros. Ao conceituado designer foram ainda pagos, a título pessoal, outros 90 mil euros pela prestação de serviços e aquisição de material de suporte à comunicação dos eixos programáticos.

 

A Comissão de Honra das Comemorações, presidida por Cavaco Silva, conta com 13 elementos, entre eles Jaime Gama, presidente da AR, José Sócrates, primeiro-ministro, e Noronha do Nascimento, presidente do Supremo Tribunal de Justiça. Além disso, há uma Comissão Consultiva de 17 pessoas, presidida pelo ministro Pedro Silva Pereira, e da qual fazem parte, por exemplo, Júlio Isidro e Margarida Pinto Correia.»

 

Márcia Bajouco in 'Correio da Manhã' (11 de Novembro de 2009)

 

[via Real Associação de Lisboa]

 

Nota de interesse: A monarquia espanhola fica mais barata aos seus cidadãos do que a república portuguesa. Segundo o Prof. Charles Powell, seis em cada dez espanhóis pensa que a monarquia parlamentar é a forma mais adequada de governo, e apena dois em cada dez pensa que seria melhor uma República, seja ela presidencial ou parlamentar. A maior parte das pessoas também valoriza positivamente o papel histórico desempenhado pelo Rei.



publicado por Marco Moreira às 18:13
Segunda-feira, 28 de Dezembro de 2009

A Sinagoga de Ben-Ezra, por vezes conhecida como sinagoga El-Guenizah, está situada no distrito de Fustat no Egipto, mais concretamente no Cairo cóptico. Para além de ser a mais antiga sinagoga egípcia, é também caracterizada pela fusão entre uma arquitectura cristã com arabescos islâmicos e ornamentos judaicos. A sua história é também ela uma fusão: entre realidade e lenda. Por exemplo; diz a lenda que é o local onde a cesta com o profeta Moisés foi recolhida das águas.

 

Sob o reino do rei babilónio Nabuchadnezzar II, os Judeus retornados ao país guiados pelo profeta Jeremias, encontraram acidentalmente vestígios de Moisés, e lá, muito perto da cidade de Guizeh, criaram uma sinagoga com o nome “Jeremias”. Dentro deste santuário foi edificado um lugar especial chamado Guenizah onde um rolo de uma Torah incompleta atribuído a Ezra Sofer (Ezra, o Escriba), foi enterrado.

 

Em várias obras, muitos historiadores citam a sinagoga como situada nestas paragens. Um deles, Benjamin de Tudèle, vindo de Espanha em 1169 escreve no seu livro escrito (em 1170) que visitou a sinagoga num lugar chamada Antiga Cairo e que lá, descobriu o rolo da Torah de Ezra, o Escriba. Outro historiador, o famoso historiador judeu italiano Jacob de Vittelina, chegado ao Egipto antes do anterior faz alusão a esta sinagoga. Um terceiro, Rabbi Yosef relata na sua obra redigida em 1630 que a inscrição original de Sambar à Universidade de Bodelaine (Oxford) contém várias referências relativas à sinagoga de Ben-Ezra da Antiga Cairo. Entre estas referências, há uma passagem assinalada na obra “Khetat” do historiador El-Makrizi que viveu no século XIV:

 

«Durante a minha visita à sinagoga da Antiga Cairo, encontrei do lado do sul um lugar onde vários séculos anteriormente, o antigo Sefer Torah de Ezra, o Escriba foi depositado».

 

O Dr. Salomon Schechter da Universidade da Columbia, chegado ao Egipto no tempo de Lorde Cromer, apoiou os relatórios precedentes a respeito da sinagoga.

 

Aquando da invasão do Egipto pelos Romanos (Ano 30 antes da Era Comum), os invasores destruíram a sinagoga do profeta Jeremias. No ano 641, Amr Ibn Al-Ás, o grande general árabe, venceu os Romanos na Babilónia e restituiu aos seus proprietários os bens usurpados pelos Romanos. Os Coptas reclamaram então o terreno sobre o qual tinha sido edificada a antiga sinagoga de Jeremias, justificando a sua queixa pelo facto de Jeremias ser citado no Novo Testamento como um dos seus profetas. Como eram mais numerosos que os judeus, tiveram êxito a convencer Amr Ibn Al-Ás e o terreno foi-lhes atribuído. Sobre este mesmo terreno, os Coptas construíram então uma igreja que o historiador El-Makrizi chama na sua obra a Igreja do Anjo Gabriel. Quanto aos outros historiadores, referem-se chamando-o Igreja de São Miguel. O Dr. Richard Gotheil da Universidade de Columbia e o professor William Worell da Universidade de Michigan, na sua obra “Cairo” reportam que a Igreja foi destruída pelo califa fatímida El-Hakim BI Amr-Ellah.

 

Em 868, Ahmed Ebn Touloun, governador do Egipto, impôs ao Coptas um tributo anual de 20.000 dinares de ouro.

 

No ano 1115, o Grão-Rabino Abraham Ibn Ezra viajou de Jerusalém ao Egipto. Dirigiu-se às altas patentes estatais e fez-lhes saber que estava a par da história da sinagoga afirmando direito de possessão do terreno. Seguidamente interveio junto do Patriarca Alexandre 56 dizendo-lhe que a sinagoga devia ser restituída aos Judeus. O Patriarca respondeu que o governador reclamaria o tributo anual de 20.000 dinares. Por último, foi decretado que a sinagoga era restituída aos Judeus quando o tributo fosse vertido. Ben-Ezra (correspondente hebraico para Ibn Ezra) reconstrói então a sinagoga que tem ainda hoje o seu nome.

 


Em baixo poderá ver fotos da Sinagoga Ben-Ezra, gentilmente cedidas pelo Dr. Joshua Ruah:

 

Para ver em pormenor basta clicar nas fotos

 

 

a ler também neste blog: A GUENIZAH DO CAIRO



publicado por Marco Moreira às 11:21
Domingo, 27 de Dezembro de 2009

 

Do álbum YOUTH de Matisyahu

 

Tradução: Jerusalém, se me esquecer de ti: fogo não sairá da minha língua. Jerusalém, se me esquecer de ti: deixa a minha mão direita esquecer o que tem de fazer.



publicado por Marco Moreira às 21:54
Terça-feira, 22 de Dezembro de 2009

 

Ninguém com bom senso pode ignorar o fenómeno do Aquecimento Global, mas ao exclusivisar a culpa do Homem neste problema poderemos estar a relativizar o mesmo com benefícios (esses sim) quase exclusivos ao "eco-lobby", nomeadamente ao Sr. Al Gore e outros que tais... muito embora seja claro que a poluição só tráz malifícios ambientais à Terra e seus moradores.

 

Com esta vaga de "mau tempo" por terras lusas e não só, gostaria de partilhar convosco (para além da fantástica foto) um outro fenómeno que teve lugar também no nosso planeta, ali para os lados da imprensa liberal norte-americana.

 

Estamos na década de '50 do século passado e os jornais e revistas entupiam os olhos dos seus leitores com um fenómeno chamado "Arrefecimento Global", que pelos títulos aflitivos, tudo apontava para o início de uma nova Idade do Gelo.

 

Antes e depois as teorias do Aquecimento vs. Arrefecimento fizeram-se notar com maior ou menor entusiasmo por parte dos 'media' e políticos. Aos restantes mortais dou um conselho: Cool Down!

 



publicado por Marco Moreira às 15:34
Sexta-feira, 18 de Dezembro de 2009

Estreia amanhã à noite na sala vermelha do TEATRO ABERTO uma peça em que se cruzam duas figuras incontornáveis da história europeia do sec. XX: Hannah Arendt e Martin Heidegger.

 

A teorista politica judia Hannah Arendt é lançada num tumulto quando o seu amante e conselheiro, o filósofo Martin Heidegger, desenvolve laços com partido nazi e torna-se um vocal defensor de Hitler. Depois da guerra, Hannah volta a Alemanha e tem de pesar as consequências de perdoar Martin pelas suas acções e interroga se amor verdadeiramente pode conquistar todo.

 

A dramaturgia da peça recorre à duplicação das cenas, que ao mesmo tempo em que estão ser representadas pelos actores, são filmadas e exibidas em três painéis no fundo do palco. De acordo com a produtora «é uma peça onde o universo mais íntimo das personagens se mistura com a política, a história e a ética, colocando questões pertinentes ao espectador de hoje».

 

A frase "os opostos atraem-se" nunca terá sido tão adequadamente aplicada a um casal tão paradoxal e confuso como Arendt e Heidegger. Alguém familiarizado com os trabalhos de ambos tem em alguma dificuldade em ponderar sobre o desígnios do amor e da razão. Kate Fodor terá ponderado mais firmemente que a maioria de nós e fez nascer esta peça.



publicado por Marco Moreira às 10:15
Segunda-feira, 14 de Dezembro de 2009

Jovens sobreviventes do Holocausto celebram Hanukah no Campo de Refugiados de Landsbeg em 1945 ~ Foto do Holocaust Memorial Museum

 

Num Chumash com boa impressão e edição, o número de versos e mesmo o número de palavras de cada parashah (porção de leitura semanal da Torah) estão colocados na maneira tradicional: as 22 letras do alfabeto hebraico usado como números. Na porção semanal Miketz, há 146 versos, que correspondem numericamente aos nomes de dois reis de Judah: Yehizkiyahu e Amatziah. Numa coincidência quase inacreditável, o nomes Yehizkiyahu e Amatziah têm exactamente o mesmo mnemónico usado para a primeira porção da Torah; sidrah Bereshit. Bereshit também contém 146 versos.

 

Naturalmente, isto significa que Miketz e Bereshit têm determinados temas em comum. Bereshit, a porção da Criação, proclama a omnipotência majestática de D’us. Enquanto Criador do universo, só D'us o sustém e determina o seu curso. Na sidrah Miketz, encontramos o Faraó a considerar-se um deus e o Egipto adorando o Nilo como sua divindade. Através da fome e da abundância, D’us exibe sem dúvida alguma que só Seu é o poder. O Faraó e o seu povo são forçados a reconhecer que são subservientes de Yosef, cuja distinção é que, seja qual for a sua posição - escravo ou vice-rei - este permanece verdadeiramente um servo de D'us.

 

Mas, há mais… Só na sidrah Miketz há um mnemónico fornecido para o número de palavras: 2.025. Isto é, nada mais nada menos que uma alusão a Hanukah, que normalmente cai na semana de Miketz, como neste ano. Em Hanukah, acendemos uma nova vela — em hebraico Ner - para cada uma das oito noites. O valor numérico de Ner é 250. Assim, as oito luzes de Hanukah dão um total de 2.000. E Hanukah começa a 25 de Kislev. Assim, 2.025 é uma alusão às luzes e a data de Hanukah.

 

O tema de Hanukah é especialmente apropriado a Miketz. Homenageamos mesmo o primeiro dia em que a chama é acesa, embora o óleo da menorah fosse suficiente para queimar durante um dia sem intervenção milagrosa. Ao fazer isto, testamos a nossa crença para coisas que parecem naturais e costumeiras - como tantos fazem na porção Miketz — são realmente manifestações da vontade Divina.



publicado por Marco Moreira às 17:05
Sexta-feira, 11 de Dezembro de 2009

 

Yosef Haim Yerushalmi, 1932-2009

 

Um erudito inovador e conhecedor amplo da história judaica cuja meditação na tensão entre a memória colectiva de um povo e o registo efectivo mais prosaico do passado influenciou uma geração de pensadores, faleceu esta Terça-feira em Manhattan.

 

Um escritor elegante e hipnótico narrador, Yerushalmi ganhou a sua reputação como um dos maiores historiadores judeus da sua geração por canalizar assuntos eclécticos, como a história do judeus expulsos de Espanha e Portugal, o messianismo, a história intelectual do Judaísmo moderno alemão e o relacionamento de Freud com a sua religião. Em 1982, Yerushalmi publicou talvez o seu mais influente trabalho, "Zakhor: Jewish History and Jewish Memory" um fino volume cujo título perfura o imperativo hebraico: Lembrar!

 

Com cerca de 100 páginas, "Zakhor" era um exame do conflito entre as histórias colectivas que revigoravam o Judaísmo como uma cultura e a crónica verificável da própria história. O Crítico Harold Bloom, revisando-o no “The New York Review of Books”, previu que o livro talvez «se una ao cânone de Literatura de Sabedoria Judaica». Muitos académicos discutiriam se de facto se uniu a esse cânone, ainda que interpretassem sua tese de forma diferente.

 

Yerushalmi estava atento, por exemplo, ao facto dos judeus durante a leitura do livro da Páscoa Judaica, continuassem a imaginar-se presentes no Êxodo do Egipto, mesmo com historiadores interrogando-se se podia ter havido 10 pragas e o Mar ter sido aberto. Se tais histórias falham em perder o seu poder de inspiração, Yerushalmi pareceu perguntar: O que esse diz sobre o poder de história?

 

Leon Wieseltier, o redactor literário de “The New Republic” e antigo aluno de Yerushalmi em Harvard, disse que este tinha sido rasgado entre o poder de memória e a complexidade da perspectiva histórica e havia lutado por reconciliar os dois ramos durante grande parte da sua vida, embora talvez não conclusivamente.

 

«História envolve desapego crítico; memória envolve um imediatismo profundo," (…) O Dr. Yerushalmi, abrigou uma profunda incerteza e um certo grau de pessimismo sobre a capacidade do estudo nutrir uma cultura viva.»

 

Harold Bloom, na sua crítica, escreveu:

 

«O Dr. Yerushalmi preocupa-se que na idade moderna a Escritura tenha sido substituída por História conforme arbítrio validado das ideologias judaicas e que essa substituição cedesse caos.»

 

Yosef Haim Yerushalmi nasceu no Bronx em 20 de Maio de 1932, no seio de uma família falante de Yidish criada em Pinsk e Odessa e que imigrou para os Estados Unidos. Seu pai, um professor de Hebraico, encheu-o com o amor aos livros hebraicos e o mandou-o para a Salanter Yeshiva no Bronx Oriental.

 

Recebeu o bacharelado da Yeshiva University em 1953 e o doutoramento da Columbia University em 1966, escrevendo a sua dissertação sobre Isaac Cardoso, um Marrano médico do sec. XVII. Trabalhou durante um ano como Rabino na Sinagoga Beth Emeth em Larchmont, Nova Iorque. Mas preferiu uma vida de estudo, começando fora como instrutor em Rutgers e mais tarde tornando-se professor de Hebraico e História Judaica em Harvard.

 

Em 1980 ficou fascinado por Columbia através de Salo Baro, o enorme académico judeu que se tinha aposentado em 1963 mas que ainda lançava volumes de História Judaica. Para além de mais tarde ficar com a cadeira de Salo Baron, Yerushalmi também dirigiu o “Columbia Center for Israel and Jewish Studies” durante 28 anos. Muitos dos seus estudantes tornaram-se eminentes historiadores do Judaísmo.

 

Jonathan Sarna, um professor de estudos Judaicos em Brandeis, disse que o especial talento do Yerushalmi era «produzir livros que muitas pessoas poderiam ler». Citou "Haggadah and History" (1975), que mostrou como a História Judaica podia ser estudada entendendo diferentes edições do livro da Páscoa Judaica através do tempo. De entre outros trabalhos admiráveis a reter “From Spanish Court to Italian Ghetto”, um estudo de 1971 sobre os Judeus ibéricos, e “Freud’s Moses: Judaism Terminable and Interminable” (1991).

 

De acordo com Yerushalmi, Freud sugeriu em "Moses and Monotheism" que havia uma quase genética transmissão de memórias inconscientes. Apesar da falta de qualquer evidência científica para tal teoria, Yerushalmi discutiu que explicou a Freud «o poderoso sentimento que, para melhor ou pior, realmente não se pode deixar de ser Judeu» ainda que, como Freud fez, rejeitássemos a própria religião.

 

~

 

A partir do artigo original (em inglês) do 'New York Times'



publicado por Marco Moreira às 13:34
 
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